domingo, 28 de novembro de 2010

Escrever

Cansei de inspirar tristeza e expirar frieza. Expelirei alegria e minha moradia será só incerteza. Misteriosamente, da própria alma desfazer-me-ei e, novamente, a mim o velho consumirá em tons inéditos. Crédulos acéfalos, incrédulos cefálicos. Semelhança e diferença, verdade e crença. Morte da poesia; vida em alegria. Renascimento da prosa; vida dolorosa. E soará assim, sem fim, alternas e acetinadas, límpidas e ensanguentadas. Sem escolha, apenas caminhos escuros, muros, pontes, mar. Barcos navegam, felicidade os guia, o oxigênio foi cortado, ninguém chamou a alegoria. Instante, nasceu gelo do mar distante, a claridade morreu. A felicidade congelou, quem mergulhou não se agasalhou, só a poesia se aqueceu. As palavras borbulham na mente, querem o papel colorir, mas a pintura será diferente sempre que o amanhã insurgir. A escritura é como a sinfonia perfeita, uma vez tocada, nunca mais será igual.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vida, Deus e morte

Pergunto-me por que não eu? Tanta gente com vontade de viver morre e eu, que já fui moribunda por grande tempo, ressuscitei. A melhor forma de encarar essas adversidades é através da crença do espírito evoluído. Mas, será que um espírito tão bom precisaria passar por tamanho sofrimento pra estar ao lado de Deus? Será que é algum tipo de confirmação da fé? Vejo pessoas iluminadas, que não deveriam deixar essa vida tão cedo, adoecerem. Podem me falar tudo, mas eu não concordo. Deus tem um plano especial? Talvez tenha, mas tem gente que nem Nele acredita. Cheguei a compartilhar dessa ideia, mas não foi uma boa experiência. Pessoas que não acreditam em Deus tendem a ser pessimistas, não sabem ver o lado bom das coisas, são medrosas, e isso é compreensível. E por que as pessoas optam a acreditar que Ele não existe se Sua existência não faz mal à grande parte da população? Digo grande parte porque há guerras religiosas, mas talvez não seja culpa da crença, pois nem todos brigam por isso. A nossa vida deve ser respaldada no equilíbrio, e as pessoas que levam a crença ao radicalismo estão longe de serem equilibradas. Crer em Deus não é se apegar a livros religiosos e querer seguir fielmente tudo que está lá escrito sem se preocupar com o próximo. Crer em Deus é saber os próprios limites, respeitar o que Ele criou, tratar a todos com amor, ou seja, de forma como gostaria de ser tratado, pois ninguém se odeia ou deseja mal a si mesmo. Por que não acreditar em Deus se a crença Nele nos torna mais humanos, mais otimistas? Quem crê em Deus, mesmo que Ele não exista, o que nunca poderá ser provado, como já dizia Platão, crê em si mesmo, consegue tirar forças de algum lugar e caminhar sozinho. Quem não crê em Deus se torna dependente das relações sociais, pois precisa saber que alguém está com ele, quando Deus sempre esteve. Se alguém, algum dia, conseguir me explicar o porquê da não existência de Deus ser melhor, não só tiro o chapéu, como faço questão de retificar esse parágrafo. As pessoas confundem religião com Deus, e nessa altura do campeonato, isso não deveria mais acontecer. A divisão do mundo em grandes religiões é uma trágica realidade. Pessoas lutam por algo que nem comprovado é. O judaísmo provoca guerra, o islamismo, massacres, e o catolicismo é hipócrita. Para mim, Deus não aprova nada disso. Se todos cressem em Deus e esquecessem-se das religiões, o mundo seria melhor.   Deus não precisa deixar de existir, pois Ele dá esperanças à grande parte do mundo, mas as religiões podiam ser extintas. Como podemos nos confessar com padres que são tão pecadores quanto nós? Quem lhes deu esse direito? Deus criou o mundo e os homens criaram as religiões, por isso estas são falhas. Eu acredito em Deus, e vivo bem por isso, mas não sou a favor de nenhuma religião. Aí, alguém poderia me perguntar: mas como todos poderiam conhecer a Deus sem a existência de religiões? Eu responderia: como era passada a cultura entre os povos primitivos? Através do conhecimento de pai para filho. E eu não sei até que ponto as religiões ajudam-nos a conhecer a Deus. Hoje em dia, muitos centros religiosos, de um modo geral, são comércios. E, além de tudo isso, fico pensando: há religiões e ainda existe muita gente má, cruel, que não se converte. E também existem pessoas que se tornam más, ou intensificam esse lado, por conta do extremismo religioso. É estranho, são tantas perguntas e tantos espaços vazios ainda para preenchermos, mas somente até aqui me permitirei questionar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espectros

Cai a chuva, inunda-se a terra, afongam-se as flores; diz a verdade, acaba-se com a bondade, vão-se os amores. Somos iludidos, sentimo-nos feridos, mas possuímos as armas. Eis o que queremos, é o que vimos, ouvimos tudo diferente, força do hábito ou apenas destino? Evitamos o inevitável, tentamos curar o incurável, feitos de esperança somos. E o canto desabrochado encanta pela salvação os desesperados. Participamos de corridas sem propósito, onde chegar em primeiro é estar em um depósito de pólvora com um isqueiro. Desacompanhado está no caminho, sendo o melhor fica sozinho, sendo o último, sempre esteve. É a beleza da vida, sem regras, sem saída, só crenças e devaneios. Lutar pelo incerto, julgo do correto, pelo que supomos serem nossos anseios. Não sei mais o que escrevo, nem o que espero, tudo se constrói por espectros.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Hipocrisia

Somos hipócritas e sempre seremos, aprendemos a ser assim, é o que o mundo determina; dizem-me que alguém pode não ser hipócrita, que pode viver de acordo com seus princípios, mas quem me garante quais estes são ou se suas atitudes condizem com seus pensamentos? Paremos de andar, de correr, de fazer a vida. Paremos para pensar. Para onde estamos indo? Para que ficar rico? Quem deseja a riqueza e quer extinguir a pobreza é hipócrita, só existe riqueza na pobreza dos outros e é por isso que o socialismo não pode ser utópico em um mundo real, é por isso que o socialismo não se concretiza. O desejo pelo conforto e pelo consumo é ardente. As coisas que o dinheiro pode comprar são brilhantes, saborosas, deliciosas, são aconchegantes diante de um mundo frio, só. E esse tipo de hipocrisia é só o começo. Com que intuito você estuda? Quais são suas motivações? Obter conhecimento ou ser reconhecido? Obter reconhecimento ou ficar rico? Eu não sei mais, parece que o mundo anda ao contrário e no sentido horário. É como se não saíssemos do lugar. Vamos viver eternamente assim, nesse ciclo vicioso de aparências, conquistas e riquezas. Ninguém quer se estudar, ninguém quer refletir, tudo que temos a fazer é comer, trabalhar, gastar e achar que amamos. Eu sou hipócrita, mas você também é.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sonho


Entre quatro paredes, envolvido em lembretes, histórias, bilhetes, o mundo é um. Abre-se a porta para fechar a mente, a claridade sustenta o barulho eloquente. E o que a gente inventou se perdeu, quando se lamenta já esqueceu; o brilhante desapareceu. Tropeça em um diamante bruto, sai do escudo, rola a ladeira. Chega no asfalto, lapidado, escaldado, mas saiu do rumo, da trilha, do mundo que um dia conheceu. Ninguém nunca mais o viu, aquele brilho sumiu. Anoiteceu. E toda manhã é a mesma ladainha, ele promete seu brilho à rainha, acha que é Romeu. Procura pela pedra preciosa, não entende que o brilho vem da mente iluminada pelo coração. E viverá assim eternamente ou até descobrir que o diamante é fruto de sua criação, o que vive é apenas uma ilusão. A porta não se abriu, ele nunca saiu, apenas teve um sonho. Bom!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Incerteza

O que eu sinto hoje talvez sinta para sempre, essa incapacidade e não vontade de seguir em frente. Medo de tentar e fracassar ao invés de dizer que nunca me esforcei para ganhar. Eu quero, mas o medo me segura, eu queria, hoje vejo o quão fui burra. Porém, não me enganarei novamente, dessa vez andarei de cabeça para baixo, mas para frente. Porque antes de querer, preciso acreditar, nadar sempre foi preciso para não se afogar.
E se mesmo o mar for o caminho mais curto a percorrer, preciso arriscar-me para não perecer; melhor o incompleto do que o nada, melhor nadar do que parar na estrada.

Cada segundo, um pensamento.
Cada minuto, movimento.
A hora, tormento dos dias que não chegam.
Estes que cessarão o sofrimento.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sorri

Senti-me um arco-íris hoje, não porque é bonito, mas raro. As gotas que caíam do céu junto aos raios de sol desviavam feixes de luz para minha alma e eu reluzi, meu reflexo foi parar no céu. Tão singelo e esmaecido, frágil o arco-íris. Como este apareceria se as gotas não caíssem em forma de lágrima e fossem absorvidas pelo lenço que paira no céu? A tristeza é divina. A tristeza é o encontro da carne com a alma, é a libertação da felicidade. Então, hoje eu sorri: sorri porque fui triste, sorri porque sou triste. Um arco-íris apareceu hoje e só; ele se foi, perdeu-se na noite escura. Mas ele voltará um dia. A felicidade não pode ser feita só de alegria, porque ela nunca deixou de ser tristeza, está apenas fantasiada de sorriso. E, por isso, sorri.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Solidão

A solidão mata, e esse sentimento não me larga. Como se as pessoas tentassem me resgatar de um poço fundo, eu não seguro em suas mãos. Eu perdi a noção entre o querer estar sozinha e o ser desconhecida. Mas é fácil entender o não ter quem compreenda o que se passa em minha alma escurecida, ninguém quer compartilhar tristeza. Penso existir pessoas que gostam de mim, mas que talvez não estejam presentes; sei porque também as considero especiais. Simultaneamente, pessoas muito próximas pedem-me passagem e tudo que vejo é uma parede, involuntária foi sua construção, mas quem colocou cada tijolo não fui eu. Sinto-me cada vez mais assim: desejando a distância e afastando a aproximação. Tenho medo de me perder em alguém, não preciso ser feliz, preciso ser só.

Desejo

Aflição é o nome do que me invade. Perto e distante, sinto-me percorrendo trilhas inacabáveis para a lugar nenhum chegar. Enervante é o mistério de teus olhos. Talvez tua boca não diga o que pensas, ou eu viva plenamente em minha idealização. Minha alma é esganada pela mente alucinada. Quero possuir-te. Sonho com teu corpo nu junto ao meu e não vejo a hora da despedida. Mata-me o mistério, mas o desejo me ressuscita, e nesse ciclo vicioso acabo como uma vivendo muitas vidas. Somente quando te entregares a mim poderei seguir em frente.