domingo, 27 de junho de 2010

Efêmera

Vivo em constantes recaídas que contrastadas com momentos felizes, fazem-me essa via de mão dupla. Não sei até que ponto a razão está ao meu lado, só sei que me enjoo do presente rapidamente, e do futuro mais ainda. Tudo que muda, em um passo, torna-se rotina. Sinto-me poderosa e fraca, visionária e sem perspectivas, amada e esquecida. Tudo que bate, passa, ideias voam, amores correm, mas uma coisa sempre fica: tristeza. Sorrisos falsos da felicidade encantam-me, e eu mais uma vez me perdi. Perco-me tanto, que a luz foge da minha alma por alguns instantes. E enquanto tais feixes luminosos não me seduzem novamente, sinto que minha perdição nunca me libertará, e que dela morrerei em loucura. Mas a luz por fim alcança-me, é um sentimento otimista, afinal, toda minha escuridão é uma parte, é a minha fraqueza. Ainda não aprendi a separar o lado espiritual do carnal da vida, creio que o mundo não tenha conseguido até hoje, contáveis são aqueles que o fizeram. E é isto, que ao meu ver, diferencia os homens. O pêndulo emocional não me abandona. A depressão talvez atinja-me um dia de forma que eu não suporte, mas quando eu chegar ao fundo do poço pela milésima vez, verei que é só uma questão de visão. Eu sou assim, minha intensidade torna-me efêmera. E a efemeridade é gozo para minha escrita.

sábado, 19 de junho de 2010

Inspiração

Perdi naquele momento, a sensação ousada, o sentimento errado, a inspiração momentânea. Dormi e acordei bem, sem me preocupar com o que na noite passada me fazia mal, e o que na noite que chega provavelmente também me fará. Medo da vida que segue, dos desafios, dos novos caminhos. Ousar é isso, é sentir medo, é se alegrar com o novo e não se limitar com o velho.  Desespero-me, pois vejo mudanças. Eu mudei, mas todos que mudavam junto a mim não se utilizavam de um movimento uniforme. Eu sim. Não possuía aceleração, só podia contar com o tempo. A forma como as coisas me atingem talvez não seja como os atingem. Mas eu acordei. E isso não me incomoda mais. O que me incomoda é que eu tinha uma prosa, e agora tenho parte dela, um texto finito de meras palavras sem inspiração. Para onde ela foi? Não sei, mas espero que chegue com a noite que devagar caminha, para alcançar-me junto a tudo de errado, o que eu não poderia jamais sentir.

sábado, 5 de junho de 2010

Corrida do futuro

Soube que andei correndo por aí. Caminhar já não valia mais a pena, pensamentos consumiam-me. Música alta, cegueira mental. Não digo que errei, mas que em algum momento perdi a razão. O que controla a mente? Do que fujo? Por que insisto? Não lembrei. Eu quis chegar a algum lugar, qual? De repente o destino não me importava, só mais uma vez queria ter percorrido o caminho que tracei embaraçosamente. Queria limpá-lo, construir uma ponte de diamantes. Caí na loucura de acreditar que o passado é imutável. Contudo, se tudo se tranforma, o futuro, de alguma forma, é o passado reinventado no presente. E, por isso corro, corria, correrei, quero chegar no futuro rapidamente. Sei que a cada minuto que virá, reinventarei o passado de dois minutos atrás. E neste momento, perderei a noção de tempo, inventada pelo homem, que faz-me automática diante dos dias. Não quero prender-me ao tempo, à rotina, à insipidez. E, devagar, tento reconstruir meu passado, mudando meu futuro, agindo no presente. Embora tenha tropeçado, quando eu levantar, correrei mais rápido.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Intensa e ilusória

Eu queria estar escrevendo um texto diferente, mas minha intensidade não me permite. Na verdade, ela não me deixa fora de mim por um instante. Tudo que eu consigo no final é contato com meu interior mais sensível, mais aguçado, mais escondido, menos provável, selvagem, raivoso, ferido. Não, não foi dessa vez que me machuquei, nem da última, foram todas, que somadas e esquecidas, causaram essa depressão, forrada com "paredes de gentileza" e palavras ao vento, semeadas no engano. Vivo de ilusões. Sofrer não mais. Eu não me permito, escondo-me, remoo-me, eu não sei mais o que sucederá. Palavras fogem-me, corro das responsabilidades, tudo que resta são sentimentos. Estes me levam para outro plano. O que mais me interessa? Dei valor a quem não merecia? Ou apenas me iludi com o que não existia? Minha intensidade vendeu-me, colocou em mim o preço mais indigno, e como matéria barata, fui usada e jogada fora. E quem disse que seria diferente? Não sei nem o que pensar; mas o que me faz sentir como lixo certamente não é a mente tola de alguém, e sim a minha fraqueza de intensidade, a falta de controle da mente. Eu não me iludi com alguém, eu me iludi comigo mesma. Fiz de seres errantes, como todos os outros, peças importantes para minha melhoria espiritual quando não precisava de ninguém. O que eu preciso agora é apaixonar-me por mim, reavaliar-me. A mente controla a matéria, e a matéria controlará todos os outros. Eu pago pela minha intensidade, mas nesta, por fim, descubro minhas ilusões.