quinta-feira, 30 de junho de 2011

Adeus

Eu sempre acreditei no amor, o problema é que sempre acreditei no amor que eu conheço; porcaria subjetiva. Meu amor por você é tão intenso que não são marcas que habitam meu coração, mas buracos, estes tão profundos, que nem sempre o sangue circula bem pelo meu corpo; falta ar. Não sei bem onde mais há buracos, acho que em minha mente, pensar direito não consigo quando é sua imagem que vem a minha cabeça. Eu te amo tanto que poderia começar tudo de novo, te amo tanto que à noite, ao teu lado, o sol nasce para demonstrar a tua iluminação em minha suposta vida, te amo tanto que sem você não existe vida, eu me acostumei com alguma coisa, dei razão de existência a minha tristeza, e a única atividade é escrever minha própria solidão. Porque mesmo com todos os corações do mundo eu estaria só: nunca mais recuperarei o seu. E eu sempre acreditei no amor; porcaria subjetiva. Enfim, adeus.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Quadro

Olhei para frente e era só grama e árvore, avistei o que deveria ser um quadro. Vida cheia de possibilidade, não havia vento, sequer algum sinal de vitalidade, apenas fungos que apodreciam a casca da ansiedade: foi aí que percebi que o tempo passava. Com tantas rimas pobres, vi o que ele não viu: estava sentado a minha frente e apenas sorriu. Olhava para o chão de um modo desajustado, sombra apenas via, rosto penumbrento. Esqueceu-se da beleza do sol ou do brilho da lua, esqueceu-se que ama as coisas simples da vida, esqueceu o que estas são, confundiu com rotina toda a emoção, toda a musicalidade, toda a novidade da noite que amanhece e do dia que entardece. Contudo, em seu sorriso vi uma confissão: acredita ainda no amor, na beleza do coração, por isso sorri, mesmo que viva solidão. Olhei para frente, avistei o que deveria ser um quadro; jogaram solvente, vida chorou.

domingo, 19 de junho de 2011

Reflexos

Passando pela rua deserta da madrugada incerta que cisma em cair, vejo que a lua acompanha meu caminhar; quanto mais lestas são minhas passadas, mais rápido a sinto chegar. Está tão perto, de uma pulcritude incomum, que passo sobre a desconfiança dissertar para decerto a lua apagar-se. Continuo andando, não é só mais o som do mar que ouço, há barulhos desavindos: passadas sincronizadas?, questiono-me. As poças no chão permitem-me ver o fulgor da lua, e se vejo essa beleza, deverei agradecer aos revérberos que aquelas me proporcionam, os pensamentos correm soltos. Agora os barulhos estão ficando tão próximos, que me ponho a correr. Passam um, dois, três, quatro, dez metros; ouço apenas o som do mar, gritam meu nome. Olho para trás e a surpresa alcança-me. Os reflexos que vejo não são da lua, mas do sorriso que alguém traz para mim. Sorrio e fim.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Bonde

Caminhando pela rua estou quando passa por mim o bonde.  Como instinto, sem ouvir seu apito, subo rumo ao horizonte. Pulo em uma ideia, a mente é filosofia e pensamento, evolução das palavras sem comprometimento. E o bonde passa. Vou de encontro à ventania, apertados olhos veem noite e dia, lugares descrentes, ideias eloquentes, paixões aborrecidas, mulheres esquecidas, ruas diferentes, ambientes complacentes, flores escolhidas, palavras encolhidas... O caminho vai ficando diferente, no tumulto há muita gente: o que a multidão faz ali em frente? O bonde foi parando, e dele dei um salto, as ideias correram feito formigas para o asfalto. Caminhando pela rua estou quando passa por mim um carro...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Alma

Ela foi. E mesmo que se ame intensamente, mesmo que seja eternamente, ela simplesmente foi. Dedos frios cobrindo palavras por escritas estarem sobre o papel. Não tem volta, tudo que se tem é grafite, limite para o que se vê, solidão do corpo: ela se foi. Disse o corpo que precisaria ficar, que sorriso iria se espalhar, que palavras iriam ser proclamadas se ele simplesmente fosse junto com ela? A quem iriam ver? Mesmo que vazio, o corpo sabia que devia permanecer. Por que ela desistiu, o corpo não entendia, tinha possiblidades, uma vida. Não deixou nada escrito, carta ou poema, apenas disse adeus com uma lágrima que do corpo escorreu. Ela se foi, o corpo gelou, a alma viveu.

domingo, 12 de junho de 2011

Foco

Tenho muito o que fazer, tenho nada a fazer. Falta-me foco, é o que dizem. Foco? De uma vida minha o que falta sou eu, não foco; de duas palavras suas falta o você para mim, não o te adoro; de três suspiros falta um sorriso, não uma lágrima; de todos os cheiros falta o da chuva em terra molhada, não os perfumes que escondem a essência da vida. Talvez falte-me o viver que quero, o almejar que eu espero, não falta foco para o que expecto de mim, só para a vida mecanizada que mata a alma e sem perceber não ouvimos mais pássaros que cantam nem percebemos que as árvores também sentem frio. Falta-me foco para o que não sou, para o que nunca serei; falta-me tempo para foco, para pôr fim a uma alma errante e entrar no paraíso do viver em prol de constante novo propósito.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pela manhã

Sem espaço pelo rumo e no tempo desajeitado, contrastado com as ações, o desejo do teu beijo não sai da cabeça. Estás sempre tão perto, mas tão longe, que te ver é quase o suficiente. Mentira! Ver-te é como anestesiar-me da realidade: quando estás triste, meu dia é nebuloso, porque não gosto de te ver assim; quando sorris, quando estás feliz, posso sentir que o mundo ainda tem chance. E, ah, quando eu te beijo... Quando te beijo sinto que nada falta, quando te abraço sinto-me tão confortável, tão completa, que nunca mais largaria. Meu termo é meio exagerado mesmo, mas assim protejo-me... Acordei e tu não estavas mais aqui, a ideia de um chocolate quente naquela manhã causava-me repulsão. Fui até a varanda e sentei-me para distrair a mente da cena vazia, mas eis que tu não havia saído há muito tempo: avistei a ti em passos rápidos e curtos saindo do apartamento em direção à tua casa. Um furacão passou em minha mente: vou atrás ou fico aqui? Por que sair assim? No que tu pensas? ... Mesmo sem escolhas, decidi não ir atrás de ti. Na verdade, esperava que a lágrima que escorria em minha face escorresse também na tua, mas tu não caminhavas em minha direção. Triste manhã de uma noite feliz ou noite feliz de uma triste manhã. Aproveitei o momento, mas esperava que ele nunca acabasse, ou se repercurtisse no tempo. Eu sei o que temes.

domingo, 5 de junho de 2011

Falta

Falta-me observação, paciência do tempo, da existência, da experimentação. Falta-me uma nova ilusão, contraste, felicidade, realidade, tristeza, divagação. Falta-me qualquer coisa, qualquer simplicidade, praticidade, qualquer não complicação. Falta-me querer existir, querer resistir, perfeição. Falta-me orgulho, um pouco de determinação. Falta imaginação, falta eu, falta nada mais não.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ode à ilusão

Sem poder nada fazer, avistei uma cadeira, sentei-me, tive uma ideia: 'Não, não foi esse alguém que lhe roubou de mim, mas a ilusão que decidiu escapar-me...'
- Chega! - a mente exclamou bravamente - Pegue seus óculos e vamos mudar esse discurso.
Com descrença, peguei meus amigos imaginários, os óculos não possuíam lentes de grau, e encostei a lapiseira ao papel:

Oh!, doce ilusão, obrigada pelo presente que constante concedes-me.
És luz para minha escrita aveludada, cheias de paixões extravasadas.
Se sinto o teu cheiro, teu perfurme é esperança.
Iludir-me é como viver uma felicidade em mim;
não há compartilhamento; é segredo que conforta e faz sorrir
Teu fim, ilusão, é sempre triste, mas teu início é tão compensador:
as pessoas geralmente se iludem mais de uma vez por amor.
Oh!, vil ilusão, nunca me deixe sem teu encanto,
vague sempre ao meu lado para contigo compartilhar meu pranto.


Folhas

Estava a nada fazer e pus-me a debruçar no parapeito. Não havia por perto ninguém, podendo circular livremente a brisa, que me gelava gradativamente. Ansiosamente em devaneio, olhei para a árvore que vivia perante a mim, e as folhas balançavam. Não eram totalmente verdes ou novas, eram velhas e cheias de histórias, que eu gostaria de contar... Se até as folhas sofrem com as pragas, remexendo-se esburacadas, sem caber-lhes um pedaço; quem sou para reclamar dor, da qual me satisfaço? Tudo que vive está suscetível a perder o encanto, a diferenciar-se pelo pranto, envelhecer: o que foi bonito nunca volta a ser.