terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fraqueza

Se um samba a ti fosse por mim feito, que cheiro se ouviria? Se as rosas exalassem tua presença, de que cor a vida se perfumaria? Tu és o encanto do desconhecido, o par do mistério. Enquanto quase nada de ti sei, mais de ti tudo quero. Quero descobrir tuas fraquezas, não teus dons; quero tirar-te do altar e colocar-te ao meu lado. Quero a tua vergonha em meu peito, teu pranto em minha dor. E se não for assim, não te quero, pois não seria real, não seria sincero. Desculpe-me a turbidez dessas palavras, ou desta carta destinada a ti, mas se não fosse assim, não seria a minha fraqueza exposta, não seria mim, seria apenas fim.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Entrada e saída

Se a entrada é escura e a saída é clara, por que andamos pela calçada? Se o vento me dito tivesse que a dor é passageira e o amor ardia feito mármore de lareira, teria eu a janela fechado. Mas o vento já soprou; fogo atiçou e a dor passou. A dor é isso: consequência do amor que se cansa de sentir e de um dia para outro decide-se esquecer, não mais sofrer, o peito costurar e mais nada sair ou entrar. Mas se a entrada é escura e a saída é clara é porque sem o amor a vida apesar de mais triste é mais iluminada, cansada e real. O amor nos faz enxergar na escuridão, não com os olhos, porém com a ilusão. Eu não sei porque isso falo, nem quero repetir, mas palavras são palavras e jogadas ao vento são apenas pedaços de pensamentos. Se a entrada é escura e a saída é clara, eu ainda não saí, estou no meio do caminho, estou estagnada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O poeta

O poeta - Pablo Picasso
O poeta é um ladrão
Rouba o momento
Depois pede perdão
Fixa o sentimento
E se perde na razão
Anistias prega
brega culpado
Solidão amorosa
Sente o coitado
Sofre por tê-la,
Perdê-la não quer.
Brilho de estrela,
Sorriso de mulher.
Colher cheia
Dor alimenta
Pimenta meia,
Paixão sangrenta.
Eis o que vive
Ouviu de alguém
Eis o que escreve
Amou ninguém

sábado, 4 de dezembro de 2010

Alguém

Passando pela avenida escura, alguém vi. Pela penumbra dos meus olhos, cruzou a lua, atravessou o horizonte. Perdi o movimento, foi-se o sentimento, esqueci. Foi-se o que imaginei, o que tive e não possuí, o que sonhei e me iludi. Mas alguém eu vi, rondando o arquipélago, traçando o continente, relâmpago de repente: perdi o movimento, foi-se o sentimento, esqueci. A confusão em minha mente, contundente e serena,  grande e pequena, eu nunca destruirei. Contudo, o quê meus olhos veem não me engana. Apenas perdi o movimento, esqueci; tudo era apenas um momento, parti.