segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Flui

Flui... Andava descalça pela calçada, de repente estava em uma estrada de terra... Flui... Os cadarços dos tênis antes desconhecidos desamarraram-se em um ato de rebeldia, abaixei para amarrá-los e já não era para a terra, que antes sujara a sola do meu pé, que eu olhava como plano de fundo, mas a água cristalina de uma praia deserta. Afundei-me... Flui... Comecei a nadar e a cada imersão da mente em água sentia-me mais observada... Flui... A praia estava cheia. Cheguei à parte rasa e comecei a correr até que não sentisse mais a água em meus pés. Não sentia água, não sentia areia, não sentia nada... Flui... Voei em queda livre diretamente para algum lugar que não sabia nominar. Sentia-me! - pensara - era verdadeiramente eu. Agora a minha vida flui, voei para o paraíso!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ser

A tristeza embala-me a mente como a vontade aguça os sentidos. Não há conforto, a mente não descansa, as teclas pensantes repetidamente cutucam-na tentando dizer alguma coisa, mas o quê?  A indecisão acelera o número de sentimentos contraditórios que pairam em minha alma. Eu não sei mais quem ser ou qual caminho seguir. Às vezes penso ser eu a melhor saída ser, porém é a fuga de mim que faria outras pessoas menos insatisfeitas. Eu não quero status, não quero riqueza, eu quero ser livre em pensamento e emoção, voar ao lado de borboletas e aterrissar em pedras grandiosas. Contudo, a realidade chama. Ainda não sou eu, sou apenas uma humana.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Medo

Acordei hoje e senti medo. O que me espera talvez não me satisfaça e o que espero nunca aconteça. Tudo depende de escolhas. Vida cruel que nos limita a viver um lado da moeda, uma face das probabilidades, uma realidade e muitas ilusões. Vida boba. Acordei hoje e senti medo. As pessoas que amo morrerão e eu não poderei querer ir junto, não poderei voltar no tempo, não poderei mais existir. Nada posso. Não posso me lamentar pelo futuro, nem me vangloriar pelo passado, não posso viver o presente acreditando que seja algo só. Meu presente sempre será o passado refletido no futuro e o futuro o presente consequente do passado. Assim, sempre estarei no mesmo lugar, e as pessoas que amo sempre estarão ao meu lado. Mas acordei hoje e senti medo. Encaro a solidão, porém não ouso perder a companhia que disfarçadamente me sustenta. 

domingo, 23 de janeiro de 2011

Escritor

A escrita é morada do espírito livre, que precisa da perfeita ficção para viver a ilusória realidade. Escrever talvez não seja um sonho, mas objetivo dos que já nada almejam; é sobrevivência íntima, manutenção do equilíbrio, duas mãos em uma estrada. Ser e não ser é transformar-se em escritor, saber tudo e nada conhecer, não ser feliz nem triste, apenas escrever. Escrever a vida que morre ou a morte que nasce, o início que termina antes de começar e o fim que inicia uma nova vida infinita. Cada história, uma vida imortal; cada escritor, uma vida atemporal.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Normalidade

Irrisório para mim é o conceito de normalidade. Tão vago e insignificante, este se torna uma classificação preconceituosa diante da diversidade da vida, da natureza, do mundo. Classificar a normalidade é limitar as experiências, os prazeres e desprazeres, as lições. Limitar-se ao normal é acostumar-se com a vida que o alheio lhe impõe, não traçar o próprio caminho e se conformar com as opções já dadas, e que são ''aceitáveis''. Limitar-se a viver a normalidade é abrir mão da liberdade, da espontaneidade. Todos os normais são apenas loucos que maquiam suas manias, privam-se do novo e no costume, na tradição, escondem-se. Normalidade para mim é falta de coragem, é pessimismo, é querer ter o controle do mundo. E o mundo não pode ser normal, pois é a anormalidade que o faz girar.

Clímax

O clímax de uma história geralmente é o conflito entre as principais personagens, mas o clímax da espera é a intensificação da ansiedade nos segundos anterioes à descoberta. O clímax da ansiedade não é a pura essência desta e simplesmente, mas a mistura do medo, da alegria, da tristeza e do anseio. Ansiar é estar em cima de um muro, pensando em descer ou não, é expectar, sugestionar, angustiar-se. O clímax é o ato de pular, é a canalização de toda a energia daquele momento, é estar preparado para o que vier ou não, é saber que tudo pode e nada, na verdade, tem-se. O clímax não é só o meio de um enredo. O clímax é o desfecho de quem espera e a máxima aflição de quem anseia. O clímax é o coração que bate sem ritmo e para nos três segundos mais importantes do mundo: no momento expectado que chega.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Vida

Sentei-me e era o fim. Fim para mim, que de nada fiz ou nada faço; apenas escrevo, escrevo o cansaço. Cansaço da vida, da busca incontida, do vento que despenteia. Cansaço de tudo, cansaço de nada, apenas mais um pé na estrada. Estrada de barro, estrada de terra, caminho cimentado, caminho de pedra. Pedras que machucam nelas os pés que pisam. Pisam por acreditar que o fim é próspero, prometedor. Prometem os que não cumprem, mas todos aqueles que cumprem um dia já prometeram. Andei e era o início. Início para mim, que de tudo faço ou fiz; até escrevo, escrevo a vontade. Vontade de viver, de buscar incontidamente, do vento que despenteia. Vontade de tudo, vontade de nada, o último passo da longa caminhada.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Desabafo

Como se diz adeus se não aprendeu sua boca a dizê-lo? Todos estão seguindo em frente, enganei aqueles que não andam para trás, expus a verdade mutante a eles e simplesmente esqueci de dizer-lhes o resultado final, a mudança. Eles continuam andando. Com peso em minhas pernas, nunca os alcanço, porém corro. Corro para dizer que tentei, para me sentir menos tola. Corro para ter discussão em uma razão: mas eu corri, eu repetia, tentando fazer-me acreditar. Misturei-me com pessoas que andam para frente, mas eu, eu ando para trás. Não sei ver o futuro, apenas o passado remoo e fico tentando bonitas palavras colocar no papel. Talvez viva mais quem vivencia curtas histórias, não só por conhecer melhor a diversidade, porém também a dor. Se esta é efêmera no mundo dos que estão atrás do progresso, que só para frente andam, ela é constante em minha solidão de início, meio e fim.