domingo, 26 de setembro de 2010

Nem tudo é o que parece

"Nem tudo é o que parece", uma frase tão clichê e incompreendida. Muitos acham que a entendem, mas poucos realmente conhecem seu sentido. Engraçado pensar como as coisas podem ser conhecidas e ao mesmo tempo não serem. É como conhecer pessoas, algumas são transparentes, outras vestem uma capa tão opaca que é impossível conhecê-las plenamente. Só há dois motivos para as pessoas serem assim, ou a alma é divina ou apodrecida. Sei que não me encaixo na ala das pessoas transparentes e antigamente costumava pensar que isso era bom; e era. Porém deixou de ser quando descobri que o que tinha dentro de mim não era mais divino ou puro, e sim sujo e realmente podre. Eu tomo doses de claridade, mas não é tão simples. Eu posso mudar, eu posso dizer que hoje em dia a sujeira não beira nem minha pele, mas as pessoas precisam ver essa mudança; e se eu for sempre opaca, mesmo que a podridão vá embora, para alguém eu sempre serei a mesma. Contudo, eu sei; nem tudo é o que parece. E isso, aos poucos, vem me conformando.

sábado, 25 de setembro de 2010

Alma desbotada

Escrever para alguém é como se ocultar em terras frias, não é fácil entranhar-se nas almas dos semelhantes, ou como se olhar em um espelho procurando uma reflexão perfeita quando ele estava quebrado, nunca se sabe ao certo o quê se passa dentro dos que nos rodeiam, olham-nos na rua, convivem conosco. Nunca se sabe ao certo o quê se passa dentro de nós mesmos. Expilo alegria, inalo tristeza. Ofereço bruscamente meus últimos prazeres, pois quero viver assim. Não quero temer perder o que nunca tive ou saborear a pobreza da felicidade. Quero continuar estagnada, da onde nunca saí, quero ficar em mim e não mais me abrir à solidão da companhia indiferente. Escrevi, olhei no espelho e não me vi, passei frio, mas fui dormir. E o novo dia clareia, o sol arde. E o que você esqueceu, se não apagou quando o leu, queimou junto com o futuro de agora, queimou junto com o meu coração e esperanças. Mas eu não sei o que se passa dentro de você e eu não me enxergo mais. Melhor assim: escrevi minha alma, libertei meu cerne, porém desbotou o papel, queimou-se.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Parecia esperta...

Parecia esperta, talvez tivesse vinte anos, ou tivera feito mais aniversários espirituais do que já antes houvesse imaginado. Praga da tristeza, ânimo da filosofia. Vivia assim, ora feliz, ora triste, normal. Antes acreditava ser diferente, no fim percebeu ser igual. Destoava das outras mulheres de sua idade, não em aparência, mas em pensamento. Tinha certeza da sua diferença, pois cada ser, no seu interior, tem. Sabia que o que sentia era único, como todos que a olhavam também sentiam isto secretamente. Ó, jocosa alucinação, por que enganas a todos com tamanho prazer? Pela rua pulando alternadamente entre risos, pisos e choros, desejava desaparecer. Sumirei, mas renascerei, ela pensava. Contudo, não previu o mais provável: se fosse, não voltaria como ela mesma; e se voltasse assim, não renasceria, pois nunca teria verdadeiramente ido. Deveria ter agido enquanto estava aqui. Não percebeu que ela tinha nascido igual para fazer a diferença, e não para se tornar diferente. Continua aprisionada no corpo, porém sua alma não mais reluz. Acreditava na morte como uma mudança, e teve o mesmo fim dos que pareciam espertos, apodreceu em terra; viva.  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alguém ouvirá


Minhas costas doem, mas não é o peso da mochila que carrego que provoca tão importuna dor. O coração bate acelerado, porém não é disritmia. Esses movimentos involuntários infrequentes entregam-me perante a descoberta alheia do meu verdadeiro eu. Não tenho medo do que sou, não tenho pena de mim, e ninguém sente compaixão. Novamente, carrego o peso do meu intímo, e minha alma clama por salvação, pois o fardo aumenta a cada dia; não se sabe quando este se tornará pesado demais, não há previsões. Contudo, continuarei seguindo até que me ofereçam ajuda perpétua. Não preciso de um suporte passageiro, pois não estou passando por uma mudança. Preciso de apoio permanente, pois esse é o caminho da vida que devo percorrer.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Simplesmente sorria

Viver é como andar em uma caminho de rosas espinhentas, é bonito, mas dói. Superficialmente, tudo respira, todos são felizes, mas essa nem sempre é a realidade do interior de cada um. Às vezes, a tristeza acoberta suas almas, e o ar que respiram já não é mais suficiente. Se seu semblante não expressa toda a felicidade que a vida pode trazer, você simplesmente irrita alguém próximo. É como se a única expressão válida para a sociedade em que vivemos fosse a de felicidade e satisfação. A tristeza é desconsiderada, delatada; os únicos que tem direito de senti-la são aqueles que realmente sofrem, ou seja, os doentes. Mas, eu me pergunto, uma alma triste não é uma alma doente? Doença essa que ninguém vê, provocada pelos próprios cegos. E essa doença tem cura, mas esta sairia muito caro para estes, custaria a realidade. Quem não enxerga a tristeza em quem ama, nunca verá sua real felicidade. O melhor esconderijo, para quem quer viver eternamente bem na sociedade hipócrita em que vivemos, é atrás do sorriso. 

sábado, 4 de setembro de 2010

Às vezes, sorrio

Quisera eu escrever sempre obras românticas e felizes, mas eu não sei direito o que é a felicidade. Talvez esta seja como um sentimento de alívio para mim, alívio da minha alma, empoçada em águas escuras. Mas hoje as poças brilham, e as águas encontram-se tão límpidas, que refletem feixes luminosos como diamantes. Os feixes aquecem-me, trazem-me clareza. E, eu sei quem trouxe o sol. Alguma vez, pedi-lhe para que me desse um só pedacinho de toda a sua iluminação. Disseram-me não, mas que sempre estariam ao meu lado quando eu precisasse dela. Minha felicidade é como o dia, sempre chegará a noite. Entretanto, será uma noite tranqüila se eu souber que o sol nascerá ao meu lado novamente, com você.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Devaneio

Acordei do sonho que não tive e entreguei minha alma mais uma vez à escuridão da minha existência. Tão repugnante, tão miserável, tão desprezível sou. Infeliz ser que pensou em nascer algum dia para ser feliz. Felicidade, ó repulsa. O que me afasta desta é testemunhado a cada piscar de olhos, a cada mensagem neural e a cada sorriso que tento esboçar através de lábios tortos, que jamais ousarão sentir novamente o desespero da escolha entre a vida e a morte. O coração bate acelerado pela decisão tomada, irreversíveis tornam-se as consequências, e tudo que resta é saborear a última divagação do meu subconsciente. O arrependimento é a consequência mais ágil e menos eficaz. Devo morrer sozinha ou confessar minha fraqueza? Eu pude sobreviver ao meu último devaneio, mas não estarei consciente ao dar meu último suspiro.